embriague-se
é preciso estar sempre embriagado. isso é tudo: é a única questão. para não sentir o horrível fardo do tempo que quebra seus ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
mas de quê? de vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. mas embriague-se.
e se, às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "é hora de embriagar-se! para não ser o escravo do mártir do tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! de vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".
(baudelaire, trad. jorge pontual - capturado do blog 100 mililitros)
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